Não sou o tipo de sujeito que faça
ode à miséria e a degradação humana. Ao contrário. Sou contra até de se dar o
valor roubado por marginais, por entender que essa divulgação motive alguns
desesperados e não marginais, a se arvorar no caminho do crime, quando esse
aparenta sucesso.
O que me chama atenção é a
banalização do crime em nossa sociedade. Sem fazer juízo de valor em relação ao
nosso sistema de segurança pública, estamos achando normal os assassinatos
(todos absurdos, claro), como se fossem fatos naturais e provedores das
manchetes dos veículos de comunicações. Um corpo estendido no chão, coberto com
jornal, as vezes com uma vela acesa por alguma alma piedosa, acreditando que essa
luz irá iluminar os caminhos da vítima no além. Esse quadro é de um realismo fantástico, mas que está tão
natural nos nossos dias, que já não sentimos sequer revolta, por ver um ser
humano morto por outro ser humano, por motivos fúteis e inexplicáveis.
Estou tentando chegar ao ponto
onde a gente possa ainda se repugnar e se indignar com esse comportamento
animalesco e completamente anti-social. Fico buscando motivos para tanta
barbárie entre seres que são tidos racionais e sociais. Não encontro. Vejo, temeroso,
uma juventude e até uma pré-adolescência, caminhando sem freios para o banco
dos réus e para a vala comum dos mortos sem identidade. A condição natural de
filho enterrar o pai que morre por velhice ou mesmo por doença, está sendo
completamente invertida. Pais tem sepultado filhos que sequer chegaram à
adolescência, por comportamento totalmente estranho aos ensinamentos dados em
casa. A banalização dos crimes chegou a um ponto que os jovens criminosos,
chegam a sorrir para as câmeras de TV, quando entrevistados porque matou o
outro jovem, como ele.
É uma espécie de diploma de
criminoso que ele expõe para toda sociedade, como uma conquista que lhe dá
orgulho. Não existem para o jovem criminoso, pai, mãe, irmãos, avós e amigos
que sofrem com a situação, enquanto ele se sente promovido e apresentado como
um bandido de alta periculosidade. É a verdadeira degradação e degeneração da
raça humana. Aonde vamos parar? Buscamos onde as explicações e soluções para
tamanho descalabro? Onde colocamos os
nossos medos pessoais e as nossas angústias com a nossa juventude? O que
podemos fazer para salvar essa juventude que banaliza o crime e estimula a
violência pelo prazer de ter a mídia como seu palco de apresentação? Quando
alguém morre, morremos um pouco também.
Como diria Ernest Hemingway (Por
Quem os Sinos Dobram), usando a frase de Jonh Donne, poeta renascentista:
“Nenhum homem é uma
ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se
um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um
promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de
qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não
perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”
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